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Acessibilidade: Embrapa disponibiliza documentário sobre os Robustas Amazônicos com audiodescrição, libras e legendas

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rondonia_07_05Além de desenvolver pesquisas e gerar tecnologias sustentáveis para a agricultura brasileira, a Embrapa também tem como desafio fazer com que essas informações sejam acessíveis a todos. Neste sentido, a empresa disponibiliza o seu mais recente documentário “Robustas Amazônicos - Aroma, sabor e histórias que vêm das Matas de Rondônia” com recursos de acessibilidade. Eles envolvem o uso de audiodescrição, com a descrição das cenas, legenda e a presença de uma janela com um intérprete da Língua Brasileira de Sinais - Libras.

O vídeo retrata a nova realidade da cafeicultura em Rondônia e apresenta a formação do terroir Amazônico para cafés Robustas especiais ao longo dos anos. São quase 50 minutos de uma imersão no mundo do café na Amazônia, conduzida por meio das histórias de vida e de valores culturais e agronômicos desta região. Este documentário foi lançado em março de 2021 pela Embrapa Rondônia, com legendas em português e inglês. Mas, apenas estes recursos não eram o bastante para tornar o conteúdo acessível a todos.

Para se ter uma ideia, o Brasil tem mais de 7 milhões de pessoas com deficiência visual e mais de 2 milhões com deficiência auditiva, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. São brasileiros, trabalhadores, estudantes e consumidores que têm deficiências sensoriais e encontram barreiras para poder acessar conteúdos técnicos, científicos e mesmo do cotidiano. Cidadãos que buscam superar as dificuldades do meio para continuarem ativos e tomarem consciência do mundo à sua volta.

Confira o documentário com recursos de acessibilidade 

É o caso do engenheiro florestal Eduardo Soares, que atuou como analista ambiental por 18 anos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Em sua profissão, ele pode conhecer todos os biomas brasileiros. No entanto, aos 44 anos, Eduardo teve um descolamento de retina, ficou totalmente cego e foi aposentado. Há quase três anos ele encara o desafio de se adaptar a essa nova realidade em sua vida pessoal e profissional e fala da dificuldade de encontrar conteúdos técnicos com acessibilidade. 

Ao ter acesso ao documentário da Embrapa, que conta com o recurso da audiodescrição, ele pode relembrar sua visita ao bioma amazônico e acessar momentos e imagens que ficaram guardados na memória. Além disso, o vídeo trouxe informações sobre uma bebida que ele aprecia muito, desde criança: o café. “Esse trabalho promove a inclusão, a acessibilidade e traz muitas informações técnicas que envolvem a produção de cafés especiais na Amazônia e seu povo. É uma oportunidade de ter acesso ao conhecimento”, diz Eduardo.

Para ele, este documentário com recursos de acessibilidade pode incentivar outros setores a também aceitarem o desafio de desenvolver conteúdos para atender as pessoas com deficiências sensoriais, em especial cegos, surdos e surdocegos. “Temos muita carência de informações acessíveis. Isso em todas as áreas, não só a técnica, mas do dia a dia também, na TV e demais meios de comunicação. Sabemos que não é fácil produzir esse tipo de conteúdo, mas vencer esse desafio vai fazer a diferença na vida de milhões de pessoas”, destaca o engenheiro florestal.


Eduardo Soares, engenheiro florestal

Conectados pelo café

Eduardo é casado com Eveline e pai de Arthur, de dez anos, Miguel, de sete, e a família vive na cidade de Barreiras, na Bahia. Sua história de vida foi uma das motivações para a inserção de recursos de acessibilidade no documentário da Embrapa. A conexão é porque ele é cunhado do pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, um dos idealizadores do vídeo. “Fiquei sensibilizado em acompanhar, mesmo à distância, as dificuldades do Eduardo em continuar sua vida sem a visão e tenho procurado meios de tornar os conteúdos que produzo mais acessíveis a ele e a todo este público. O desafio pra gente também é grande, mas a Embrapa tem se esforçado para tornar suas publicações mais acessíveis. A ciência e a tecnologia devem ser feitas para todos e isso inclui a acessibilidade de pessoas com necessidades específicas aos nossos conteúdos”, afirma o pesquisador.

As conexões não param por aí. Em tempos de pandemia, descobrimos que as distâncias não são tão impeditivas assim e que as boas ações e bons exemplos rompem barreiras e podem inspirar em qualquer parte do planeta. Vamos explicar. Enrique, de Rondônia, se conecta ao Eduardo, que nos conecta à Sandra Farias e à sua filha Janinne Farias, que também residem no município de Barreiras, na Bahia. O amor pelo café, a empatia e os recursos digitais disponíveis foram os elos desta interação.

Sandra é professora no Instituto Federal da Bahia, no Campus de Barreiras. Ela ensina ao Eduardo o Braille - sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas e surdocegas. Além disso, Sandra é mestre em Educação, especialista em Língua Brasileira de Sinais e Educação Inclusiva, pedagoga e, como ela mesma costuma dizer, seu melhor currículo é ser mãe de Janinne, de 28 anos, que é estudante de Pedagogia, professora de Braille e, um detalhe: é surdocega. 

Elas também tiveram acesso ao documentário da Embrapa e concordam com Eduardo quanto à carência de conteúdos com recursos de acessibilidade. “A empatia é o primeiro passo para o processo de mudança. Se colocar no lugar do outro e fazer algo que possa ajudar é muito importante e essa ação se multiplica”, afirma Sandra. 

Ela diz que a deficiência costuma ser vista como falta, falha ou insuficiência que exclui. Quanto maior a deficiência mais insuficiente e incapaz esse sujeito é considerado. “A gente precisa mudar isso. As empresas, órgãos públicos e as pessoas precisam olhar para o lado e se questionar: o que eu estou impedindo aqui? Porque o impedimento não está na pessoa com deficiência está no ambiente. Os impedimentos precisam ser retirados ou minimizados para que as capacidades e os potenciais dessas pessoas sejam reconhecidos”, destaca a professora.

Um mundo sem ouvir e sem enxergar, mas cheio de possibilidades

A surdocegueira traz na sua constituição a mensagem de possibilidade. Imagine um ser humano que não tem a visão e nem a audição e, ainda assim, poder fazer muitas coisas que o outro faz. Sandra descobriu isso cedo. Ela é mãe de três filhos: Jackson Júnior e as gêmeas Jéssica e Janinne, que nasceram prematuras. Já nos primeiros meses de vida, as gêmeas lutaram pela sobrevivência e não demorou muito para que Sandra observasse nas gêmeas diferenças de comportamento. 

Jéssica, apesar de ter tido todas as complicações da prematuridade, como baixo peso, parada cardiorrespiratória e infecção hospitalar, não teve sequelas. No caso de Janinne, a mãe notou que o desenvolvimento estava diferente da irmã e, com apoio médico, chegaram ao diagnóstico da surdocegueira. De lá pra cá, os desafios e os aprendizados têm sido muitos para Janinne e toda a família. 

Por conta da falta de profissionais para ajudar a filha, Sandra desbravou um mundo novo. Aprendeu língua de sinais, Braille, fez diversos cursos, graduação em pedagogia, se especializou em educação inclusiva e fez mestrado na área de surdocegueira. Tudo para dar condições ao desenvolvimento dos potenciais e aos sonhos da filha. Ações que nestes 28 anos transformaram o ambiente em que elas vivem e também beneficiaram outras pessoas com deficiência na Bahia, no Brasil e no mundo. 

Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com DeficiênciaA Lei nº 13.146/15, em vigor desde janeiro de 2016, define que pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. Estes cidadãos têm direito à cultura, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo garantido o acesso aos bens culturais em formatos acessíveis.

Estas barreiras, segundo a lei, são qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, assim como o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros. Dentre elas, destacam-se as barreiras atitudinais, que são atitudes ou comportamentos que impedem ou prejudicam a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas.


É o trabalho de formiguinha promovendo a transformação. “Quiçá um dia eu veja um mundo mais acessível, mais humano e menos capacitista, uma sociedade sem barreiras”, diz Sandra. Histórias como a dela existem milhares. São muitas as pessoas que estão só esperando a oportunidade para poder mostrar sua capacidade. Elas querem mais!

Janinne é muito ativa e curiosa, conta a mãe. Assim que terminar a faculdade já quer iniciar o mestrado na área de pedagogia. “A energia para minhas batalhas vem da vontade dela de viver e querer sempre mais”, complementa Sandra, que não se cansa de ser a voz desse público. Depois que assistiu o documentário sobre café, ela fez um apelo. “Gostei muito de ver o vídeo e parabenizo a Embrapa pela iniciativa. É muito importante que as empresas tenham essa sensibilidade em querer tornar acessíveis as informações. As pessoas com deficiência são ativas e também consumidoras, é um público que deve ser levado em conta”, conclui. 


Consumidora assídua de café, Janinne logo se interessou pelo conteúdo do documentário.  “Gosto muito de café e nunca tive a oportunidade de saber como ele é produzido. Com esse vídeo da Embrapa, todo acessível, com janela de libras, audiodescrição e legendas todos nós, pessoas com deficiência, teremos acesso”, comenta. Para acessar o vídeo, ela contou com a ajuda de Irtanizio Cardoso, um guia-intérprete, profissional que auxilia neste processo comunicativo.

Você deve estar se perguntando como a Janinne acessou o vídeo. É muito interessante observar como essas pessoas superam inúmeros desafios e seguem ativos e cheios de vida. Existem muitas formas de comunicação além da fala. A pessoa surdocega, por exemplo, pode utilizar diversos meios. Para o documentário, Janinne usou a língua de sinais tátil, um sistema não alfabético que corresponde à língua de sinais utilizada tradicionalmente pelas pessoas surdas, mas adaptadas ao tato, através do contato das mãos da pessoa surdocega com as mãos do interlocutor ou guia-intérprete.

Existem muitas outras formas, como o método Tadoma, que é a percepção da língua oral emitida, mediante o uso de uma ou das duas mãos da pessoa surdocega colocadas sobre os lábios, bochecha, mandíbula e garganta do interlocutor; o alfabeto datilológico, em que as letras do alfabeto se formam mediante diferentes posições dos dedos da mão; o Sistema Braile Tátil, baseado no sistema Braille tradicional de leitura e escrita adaptado de maneira que possa ser percebido pela pessoa surdocega através do tato; entre outros.

Confira no vídeo os depoimentos de Eduardo Soares, Sandra Farias e Janinne Farias

Renata Silva (MTb 12361/MG)
Embrapa Rondônia

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