Uma equipe multidisciplinar de mais de 50 técnicos da Embrapa Café e Embrapa Cerrados, Unidades de Pesquisa da Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, esteve no Oeste da Bahia realizando excursão técnica à Fazenda Lagoa do Oeste, em Luís Eduardo Magalhães. A visita teve o objetivo de conhecer as tecnologias da Embrapa, como o estresse hídrico controlado, o programa de monitoramento de irrigação, a aplicação de doses mais elevadas de fósforo na cultura e o cultivo da braquiária nas entrelinhas do cafeeiro.
Estresse hídrico controlado – Com 904 hectares cultivados com café arábica irrigado por pivô central e gotejamento para produção de grãos especiais para exportação, a fazenda Lagoa do Oeste guarda uma história positiva de relacionamento com a Embrapa, tendo incorporado muitas de suas tecnologias, além de ser parceira do Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café. O processo de produção do café irrigado é certificado internacionalmente, o que permite à Adecoagro, proprietária da fazenda, manter clientes no Japão, EUA e na Europa.
Em 2006, a Adecoagro iniciou as operações com café em uma área de 1.632 hectares envolvendo duas fazendas do grupo (Lagoa do Oeste e Rio de Janeiro, no mesmo município). Em 2011, na mesma área, a safra foi de 45 mil sacas e, para este ano, a estimativa é de 60.550 sacas. O potencial é de 65 mil sacas no ano que vem. “Buscamos estabilidade de produtividade entre 45 a 50 sacas de café por hectare em áreas maduras”, diz Rafael Ferreira, gerente de produção de café do grupo. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, a previsão de produtividade nacional é 24,36 sacas por hectare, considerando a produção de 50,45 milhões de sacas previstas para 2012.
“O resultado reflete o uso de tecnologias. Acreditamos que alcançamos vôo de cruzeiro com a parceria com o Consórcio Pesquisa Café e a Embrapa, o que é uma satisfação”, afirmou Guy Carvalho, consultor técnico da Adecoagro. Ele lembrou as dificuldades enfrentadas até o estabelecimento do cafeeiro na região. “Quando viemos para o Oeste da Bahia, tivemos que rever vários paradigmas. E pedimos ajuda à Embrapa. Viemos para produzir café especial irrigado e vimos que no Cerrado onde o período seco é intenso, o manejo das irrigações tem que ser feito criteriosamente para obter sucesso”.
A parceria da fazenda com a Embrapa começou em 2005 com o projeto “Desenvolvimento e adaptação de técnicas de manejo de água na cafeicultura irrigada em solos arenosos do oeste baiano” (Projeto Raioba), que envolvia o uso de tensiômetros, turno de regas (com três a cinco dias de intervalo), redução de energia, menor desgaste das plantas, entre outros. O trabalho teve a participação do pesquisador Jorge Enoch Lima, da Embrapa Cerrados, e levou à redução, em 23%, do consumo de água anual para o café irrigado. Embora essa tecnologia tenha contribuído para racionalizar o uso de água de irrigação, ela por si só, não foi suficiente para solucionar muito dos problemas da cafeicultura irrigada do Oeste da Bahia.
No mesmo ano, foi adotado o estresse hídrico controlado, que promoveu a redução de custos, das perdas na colheita, de pragas, da requeima e da alta incidência de flores tipo estrelinhas. A tecnologia permitiu ainda o controle sobre a floração do cafeeiro, a uniformização da maturação dos frutos, a oportunidade para fazer a manutenção de equipamentos, além de ter garantido repouso às plantas e apontado falhas no programa de fertilização até então utilizado.
O projeto multidisciplinar utilizou cultivares de café desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, instituições integrantes do Consórcio Pesquisa Café. “Em 2005, convidamos pesquisadores, técnicos, extensionistas e produtores para um dia de campo visando observar a qualidade do café cereja colhido e cultivado com adoção do estresse hídrico. Foram cedidas áreas da fazenda para validar a pesquisa e os resultados da aplicação da tecnologia se mostraram promissores”, conta Antonio Guerra, pesquisador que liderou o desenvolvimento da tecnologia e atualmente é gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Café.
Na estação de manejo de irrigação, foi apresentado sistema de captação e bombeamento de água na propriedade, que faz irrigação por gotejamento em 359 hectares e por pivô central na área restante. Em seguida, foram mostradas cultivares de Coffea arabica. A cultivar Catuaí Vermelho IAC 144 que é a variedade mais plantada no Oeste da Bahia, sendo de porte baixo, vigoroso e com alta produtividade, assim como a "Topázio" MG 1192, da Epamig. A "Icatu Amarelo" IAC 2944 tem porte alto e a "Iapar 59", de porte baixo, sendo que ambas têm resistência a doenças. A "Catucaí" é resultante do cruzamento natural entre "Catuaí" e "Icatu", guardando algumas características de ambos.
Aplicação de fósforo - Outra tecnologia da Embrapa adotada na fazenda foi a fosfatagem, a partir de 2006. Ela permitiu a revisão da quantidade de fósforo aplicada, propiciando mais energia, vigor e sanidade às plantas reduzindo os efeitos da bienalidade de produção.
Atualmente, o manejo da irrigação das propriedades utiliza a ferramenta online “Monitoramento de Irrigação no Cerrado”, da Embrapa Cerrados, além de diversos controles de gerenciamento da produção. A adubação com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) também é feita com base nos trabalhos da Embrapa. “Na parceria com a Embrapa, conseguimos solucionar diversos problemas que antes não resolvíamos”, disse Guy.
Café com braquiária - Os visitantes percorreram todo o processo de produção – do plantio ao processamento dos grãos. Na estação de manejo da fertilidade do solo com NPK e braquiária, o plantio da braquiária nas entrelinhas do cafeeiro foi realizado em novembro do ano passado, e até abril haviam sido feitas três roçadas. Foi constatado que a braquiária não competiu com o cafeeiro, além de contribuir para a ciclagem de nutrientes e a incorporação de carbono (matéria orgânica) para o solo. “A braquiária consegue extrair fósforo que o café não acha”, disse Guerra. “Ela multiplica a micorriza nativa e estimula o sistema enzimático que está no solo, melhorando sua qualidade e fazendo-o funcionar melhor”, acrescentou o chefe geral da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres.
Colheita e pós colheita - A colheita foi demonstrada na estação seguinte. O processo de colheita seletiva é realizado por máquinas, em três etapas, à exceção das plantas com até dois anos. Na primeira passada, é colhido o café dos ponteiros – em torno de 40% do total ou cerca de 25 mil sacas. Busca-se colher o máximo de grãos cereja e o mínimo de grãos verdes. Após essa primeira passada que causa um estresse mecânico às plantas com consequente maturação dos frutos mais atrasados, 20 dias depois, é feita a segunda passada, colhendo-se 45% do café. O restante é levantado do chão através da varrição.
Na usina de beneficiamento de grãos, foram observados os processos de separação e preparo dos grãos, como lavagem, descasca, secagem e ensacamento. Também foi demonstrada a classificação dos grãos, a análise da qualidade, cor, peneira e a separação dos grãos defeituosos. Ao final, os participantes puderam degustar um café preparado com dois tipos de grãos produzidos pela Adecoagro.
“As tecnologias testadas e validadas com sucesso abrem margem para sua expansão em função dos benefícios visíveis, como diminuição de custos de produção e retorno financeiro dos investimentos aplicados. Estamos abertos para validar novas tecnologias, receber mais informações. A parceria com a pesquisa é fundamental para nós, assim como o inverso acredito ser também verdadeiro”, fala Rafael Ferreira, gerente de produção da Fazenda Lagoa do Oeste.
“Além de todo o processo ser altamente eficiente, tem um alto nível de gestão. As boas práticas predominam, sendo um grande laboratório para diversas teses. Identificamos a grande oportunidade de quantificar e valorar o uso das tecnologias empregadas. É preciso contabilizar o que se faz em nome da sustentabilidade. O meio ambiente deixou de ser uma palavra de ordem para se tornar uma exigência da sociedade”, observou Peres ao final da visita.
O ex-chefe interino da Embrapa Café, Paulo Cesar Afonso Jr, disse que os resultados obtidos nesta fazenda e em outras nas quais as tecnologias do Consórcio Pesquisa Café foram aplicadas graças à união de instituições brasileiras de pesquisa, extensão e transferência de tecnologia em torno desse arranjo institucional, inédito e único no mundo em torno de um único produto. “Precisamos incentivar mais esse exercício de aproximação com o setor produtivo e replicar esse sucesso pelo País a fora”.
Depoimentos de participantes – Pesquisadores da Embrapa Cerrados estavam empolgados durante a visita. Cícero Donizette, Luiz Adriano e Charles Martins acharam a iniciativa fantástica. Segundo eles, é uma oportunidade de contato direto com produtor, suas dúvidas e demandas para a pesquisa para ouvir demandas do setor e oferecer soluções viáveis econômico, sócio e ambientalmente em benefício da pesquisa, do setor produtivo e da sociedade. Da Embrapa Café, o pesquisador Anísio Diniz enfatiza a importância da transferência de tecnologia para que os resultados da pesquisa cheguem até o produtor. “É ela que faz a ponte com a cadeia produtiva”.
O analista Jamilsen Santos, da mesma Unidade da Embrapa, concorda com o colega e acrescenta que, “para completar o sistema de inovação, é necessário que essas tecnologias façam a diferença para a sociedade”.
As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio e o financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.
Gerência de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café
Texto: Flávia Bessa (MTb 4469/DF)
Fone: (61) 3448-1927
www.embrapa.br/cafe
www.consorciopesquisacafe.com.br
Serviço de Atendimento ao Cidadão: http://sac.sapc.embrapa.br