A instituição conta com apoio e recursos do Consórcio Pesquisa Café
O esforço concentrado de pesquisa propiciado pelo Consórcio Pesquisa Café - integração de instituições científicas, de ensino e extensão rural tradicionais para geração de transferência de tecnologias em parceria com vários segmentos da cadeia agroindustrial do café – tem transformado, ao longo dos seus 15 anos de existência, o cenário da cafeicultura no Brasil.
Foi o que ocorreu na comunidade de Palmeiras, localizada no Espírito Santo e formada por 40 famílias que têm como principal meio de subsistência o plantio de banana e, principalmente, de café conilon. Preocupados em resolver a questão da baixa produtividade das lavouras, os cafeicultores buscaram o conhecimento do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper, instituição de pesquisa do estado fundadora e participante do Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café, Unidade da Embrapa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa.
“A presença de técnicos e pesquisadores foi para nós uma fase de aprendizado. Naquele tempo, as lavouras eram antigas e pouco adensadas. As plantas tinham muita praga e davam pouco café. As melhorias causaram uma disparada na produtividade das lavouras. Antes, os agricultores não colhiam mais do que dez sacas por hectare. Hoje a colheita, na mesma área, passa facilmente de 70 sacas. Todo esse salto só foi possível porque já tínhamos nos organizado e nos unido em torno de uma associação para plantar e colher com nossas próprias mãos em equilíbrio com a natureza”, conta o agricultor José Cláudio Carvalho.
Tecnologias transformadoras – Em mais de 25 anos de pesquisa com café conilon no Incaper, foram desenvolvidos diferentes conhecimentos básicos, produtos, processos e tecnologias que têm sido amplamente utilizadas pelos cafeicultores. Exemplos são as variedades melhoradas, aprimoramento das tecnologias para produção de mudas clonais de qualidade superior, recomendações de espaçamentos, poda programada, plantio em linhas, adubações, manejo de pragas e doenças, práticas de conservação de solo, manejo de irrigação e tecnologias de colheita, secagem, beneficiamento e armazenamento.
Poda Programada do Conilon - A prática revigora essa espécie de café, favorece a longevidade do cafezal e aumenta a produtividade. A tecnologia é adotada pela maioria dos produtores do Espírito Santo e chegou mais recentemente em Rondônia e Minas Gerais. A poda consiste na eliminação das hastes verticais e dos ramos horizontais improdutivos para que no lugar deles nasçam outros mais novos. Nesse processo, os ramos estiolados, de baixo vigor, e o excesso de brotações, também são eliminados.
Entre os benefícios da tecnologia, segundo o pesquisador do Incaper Romário Gava Ferrão, estão “redução média de 32% de mão-de-obra no período de dez colheitas; facilidade de entendimento e execução; padronização do manejo da poda; maior facilidade para realização da desbrota e dos tratos culturais; maior uniformidade das floradas e da maturação dos frutos; melhoria no manejo de pragas e doenças; aumento superior a 20% na produtividade média da lavoura; maior estabilidade de produção por ciclo e melhor qualidade final do produto, tornando inclusive as plantas mais tolerantes à seca e com melhores condições para o monitoramento e o manejo de pragas e doenças”.
Programa de melhoramento genético – O objetivo inicial de desenvolver materiais genéticos superiores, de maior produtividade, acrescido de tolerância a déficits hídricos e uniformidade de maturação, uma vez que as variedades utilizadas pelos produtores apresentavam grande heterogeneidade de plantas, produção e outras características, que dificultavam o manejo e a obtenção de um produto de qualidade. Até poucos anos atrás, foi direcionado para a obtenção de cultivares mais produtivas e com resistência às principais pragas e doenças, com destaque à ferrugem, que é a principal doença do cafeeiro.
“Foram estabelecidas metodologias de pesquisa para o desenvolvimento de variedades clonais e de variedades propagadas por sementes, já que o conilon apresenta particularidades genéticas diferentes das do café arábica. Nos últimos anos, as pesquisas estão voltadas também para a identificação de materiais genéticos com tolerância à seca, para a avaliação de características relacionadas à qualidade do produto e da bebida, para a ampliação da base genética e, sobretudo, para o desenvolvimento de cultivares com diferentes atributos positivos, por meio da utilização de estratégias de melhoramento mais modernas e, ou de ferramentas e conhecimentos multidisciplinares”, explica a pesquisadora da Embrapa Café Maria Amélia Gava Ferrão.
Os resultados de maior alcance para os produtores capixabas foram o desenvolvimento e recomendação de seis variedades melhoradas, sendo cinco clonais (Emcapa 8111, Emcapa 814, Emcapa 8131, Emcapa 8141 Robusta Tropical, Vitoria Incaper 8142) e uma de multiplicação por sementes (Emcaper 8151 Robusta Tropical). “As lavouras formadas por variedades clonais são mais uniformes, apresentam maior potencial de produção e maior possibilidade de obtenção de produção final de melhor qualidade e constituem atualmente mais de 60% do parque cafeeiro estadual”, completa a pesquisadora.
Em busca de mais qualidade – Mesmo com o aumento de produtividade, verificou-se que a melhoria da qualidade no conilon é um fator preponderante para a sustentabilidade da atividade no Estado. ”Esforços conjuntos têm sido feitos, como a avaliação de materiais genéticos com características químicas e sensoriais requeridas para obtenção de produto de qualidade superior e uma ampla Campanha Estadual de Melhoria de Qualidade, pautada na utilização de boas práticas agrícolas no processo de produção, colheita, processamento, secagem, beneficiamento e armazenamento do café. Os resultados dos primeiros trabalhos de avaliação dos materiais genéticos, realizados em parceria com a Nestlé, mostraram que as variedades clonais apresentaram atributos positivos de grande interesse para a indústria de café solúvel”, conta o pesquisador da Embrapa Café/Incaper, Aymbiré Fonseca.
Balanço produtivo - O uso das tecnologias tem contribuído para que desde o período de lançamento das primeiras variedades clonais em 1993 até o período atual a produtividade média estadual aumentasse na ordem de 204%, saltando de 9,2 para 28,0 sacas beneficiadas/ha e a produção em 233%, passando de 2,4 para 8,0 milhões de sacas, com um aumento de apenas 11% da área plantada. “É expressivo o avanço tecnológico da cultura do café conilon no Brasil, cujo domínio produtivo está no Espírito Santo, observa o pesquisador.
Agronegócio café no ES - O agronegócio do café é uma das atividades mais importantes do Espírito Santo por seu grande peso social e econômico no Estado. Presente em todos os municípios capixabas, exceto Vitória, é a atividade com maior poder de geração de empregos no Estado. A cafeicultura é o sustentáculo econômico de 80% dos municípios e responde por 43% do PIB agrícola capixaba. Toda a cadeia produtiva gera aproximadamente 400 mil postos de trabalho ao ano. Só no setor de produção, envolve 131 mil famílias, com tamanho médio das lavouras em torno de 8,3 hectares. O estado é o único que tem produção significativa das duas espécies - arábica e conilon – com produção anual de cerca de 11 milhões de sacas colhidas em 60 mil propriedades, das quais, mais de 73% são de base familiar. Esses números colocam o Estado como o segundo maior produtor do Brasil. Destaca-se como o maior produtor brasileiro de café conilon e terceiro maior de café arábica.
Sobre o Consórcio - Tendo por base a sustentabilidade, a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental, o desenvolvimento e o incentivo a pequenos e grandes produtores, com responsabilidade social e ambiental, participam atualmente do Consórcio as dez instituições fundadoras – Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola), Pesagro (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro), Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), IAC (Instituto Agronômico de Campinas), Iapar (Instituto Agronômico do Paraná,) Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), Ufla (Universidade Federal de Lavras) e UFV (Universidade Federal de Viçosa) e outras 40 instituições de pesquisa, ensino e extensão. As pesquisas estão concentradas nas áreas de melhoramento genético, biotecnologia, segurança alimentar, otimização do sistema produtivo, manejo integrado de pragas e doenças, cafeicultura irrigada, zoneamento climático, colheita e pós-colheita, aperfeiçoamento de processos e desenvolvimento de equipamentos.
As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio e o financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira - Funcafé, do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Gerência de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café
Texto: Flávia Bessa – MTb 4469/DF
Fone: (61) 3448-1927
Site: www.embrapa.br/cafe
www.consorciopesquisacafe.com.br