A cafeicultura do conilon é uma das atividades mais importantes nos aspectos econômico e social no Espírito Santo, principalmente na geração de empregos e renda. Nesse sentido, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) - instituição participante do Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café - tem avançado continuamente em pesquisas para renovação e revigoramento de lavouras e também em assistência técnica e extensão rural. “O Incaper tem 28 anos de pesquisa com o café, e tem sido referência no desenvolvimento tecnológico dessa espécie”, afirma o diretor-presidente do Incaper, Evair Vieira de Melo.
Segundo Melo, como resultado desse esforço podem ser citados os relevantes impactos da adoção das novas tecnologias que a cada momento são incorporadas aos sistemas produtivos (inovações), tanto no que se relaciona à produtividade como em relação à qualidade do produto final, que representa aproximadamente 44% do PIB agrícola do estado.
A partir da criação do Consórcio, em 1997, as ações de pesquisa e transferência de tecnologia no estado ganharam grande impulso. “Os recursos permitiram incremento substancial dos estudos e o surgimento de novas frentes de pesquisa. Além disso, a união de massa crítica em café e o compartilhamento de recursos humanos, infraestrutura e mesmo de materiais genéticos das instituições consorciadas trouxe salto quantitativo e qualitativo na produção e produtividade estadual, tanto para o café conilon como para o arábica. Formou-se um batalhão de especialistas engajado trabalhando em prol da pesquisa, e da transferência de tecnologia, compartilhando problemas e soluções, trazendo inovação para o desenvolvimento do campo”, avalia o pesquisador da Embrapa Café no Incaper, Aymbiré Fonseca.
Tecnologias transformadoras – Em 28 anos de pesquisa com café conilon no Incaper, foram desenvolvidos diferentes conhecimentos básicos, produtos, processos e tecnologias que têm sido amplamente utilizadas pelos cafeicultores. Exemplos disso são as variedades melhoradas de café conilon, aprimoramento das técnicas de produção de mudas clonais, fisiologia vegetal, estabelecimento e recomendações de espaçamentos, poda programada de ciclo, plantio em linhas, adubações, manejo integrado de pragas e doenças, práticas de conservação de solo, manejo de irrigação e tecnologias de colheita, secagem, beneficiamento e armazenamento.
Poda Programada do Conilon - A prática revigora as lavouras de conilon, favorece a longevidade do cafezal e aumenta a produtividade, além de reduzir a mão-de-obra nas práticas de adubação, podas e de manejo, de forma geral. A tecnologia da poda é adotada pela maioria dos produtores do Espírito Santo e chegou mais recentemente em Rondônia e demais estados produtores. A poda consiste na eliminação das hastes verticais e dos ramos horizontais improdutivos para que no lugar deles nasçam outros mais novos e com potencial produtivo renovado. Nesse processo, os ramos estiolados, de baixo vigor, e o excesso de brotações, também são eliminados.
Entre os benefícios da tecnologia da poda, segundo o pesquisador do Incaper Romário Gava Ferrão, encontram-se: “redução média de 32% de mão-de-obra (evidenciado em um período de dez safras consecutivas); facilidade de entendimento e execução; padronização do manejo da poda; maior facilidade para realização da desbrota e dos tratos culturais; maior uniformidade das floradas e da maturação dos frutos; melhoria no manejo de pragas e doenças; aumento superior a 20% na produtividade média da lavoura; maior estabilidade de produção por ciclo e melhor qualidade final do produto, tornando inclusive as plantas mais tolerantes à seca e com melhores condições para o monitoramento e o manejo de pragas e doenças”.
Programa de melhoramento genético – O objetivo é desenvolver materiais genéticos superiores, de maior produtividade, e com resistência às principais pragas e doenças, com destaque à ferrugem, que é a principal doença do cafeeiro. “Foram estabelecidas metodologias de pesquisa para o desenvolvimento de variedades clonais e de variedades propagadas por sementes, já que o conilon apresenta particularidades genéticas diferentes das do café arábica. Nos últimos anos, as pesquisas estão voltadas também para a identificação de materiais genéticos com tolerância à seca e uniformidade de maturação, para a evidenciação de características relacionadas à qualidade do produto e da bebida. Também para a ampliação da base genética e, sobretudo, para o desenvolvimento de cultivares com diferentes atributos positivos, por meio da utilização de estratégias de melhoramento mais modernas e/ou de ferramentas e conhecimentos multidisciplinares”, explica a pesquisadora da Embrapa Café Maria Amélia Gava Ferrão.
Um dos resultados de ampla utilização pelos cafeicultores capixabas foi o desenvolvimento e recomendação de cinco variedades clonais (Emcapa 8111- de maturação precoce, Emcapa 8121 – de maturação intermediária, Emcapa 8131- de maturação tardia, Emcapa 8141- Robustão Capixaba e a ‘Vitoria - Incaper 8142’) e uma .e uma variedade de multiplicação por sementes (Emcaper 8151Robusta Tropical). “As lavouras formadas por variedades clonais são mais uniformes, apresentam maior potencial de produção e maior possibilidade de obtenção de produção final de melhor qualidade e constituem atualmente mais de 60% do parque cafeeiro estadual. Naturalmente que tais materiais genéticos só expressam seus respectivos potenciais quando amparados por uma série de outras tecnologias, que dão sustentação para que haja bom desempenho produtivo”, completa a pesquisadora.
Mais qualidade – Mesmo com o aumento de produtividade, o incremento da qualidade do conilon se constitui num fator preponderante para a sustentabilidade da atividade. ”Esforços conjuntos têm sido feitos, como a avaliação de materiais genéticos com características químicas e sensoriais requeridas para obtenção de produto de qualidade superior e uma ampla Campanha Estadual de Melhoria de Qualidade, pautada na utilização de boas práticas agrícolas no processo de produção, colheita, processamento, secagem, beneficiamento e armazenamento do café. Os resultados dos primeiros trabalhos de avaliação dos materiais genéticos, realizados em parceria com outras organizações de pesquisa, entre as quais a Nestlé, mostraram que as variedades clonais apresentaram atributos positivos de grande interesse para a indústria de café solúvel”, conta o pesquisador Aymbiré Fonseca.
Novos lançamentos - Esses antecedentes estão sendo fundamentais para que, neste ano, o Incaper lance novas variedades clonais de café conilon, com características de alta produtividade, maior tolerância a doenças e potencial qualitativo diferenciado. Os trabalhos de pesquisa estão em processo final e incluem a análises físico-químicas e sensoriais. “Essa é a primeira vez que características qualitativas são incorporadas no processo de seleção de clones para a formação de uma variedade clonal. Esse é um marco nas pesquisas, pois destaca a qualidade final do café. Temos certeza de que o mercado mundial vai consumir mais o nosso conilon, pois é um produto de qualidade incontestável”, avaliou Romário Gava Ferrão, pesquisador do Incaper e coordenador de cafeicultura do Estado.
Reconhecimento - O Incaper foi classificado em primeiro lugar no 2º Concurso de Inovações Rurais INVENTABRASIL, na categoria AGRICULTURA, pelo desenvolvimento de variedades clonais de café superiores, estáveis e com adaptabilidade para os diferentes ambientes. As novas cultivares têm permitido a elevação da produtividade e da qualidade final do produto. Mudas desses materiais melhorados pelo Incaper têm sido disponibilizadas pelo instituto e são suficientes para atender a taxa de renovação do parque observada no Estado.
Nesse concurso, o Incaper recebeu nada menos que seis premiações (uma delas o mais alto prêmio) pelo desenvolvimento de variedades clonais, uma homenagem pelo desenvolvimento de tecnologias inovadoras, e foi credenciado por instituição internacional de pesquisa, tudo isso durante a 9ª Semana Estadual de Ciência e Tecnologia. Os desdobramentos desse reconhecimento será a participação na Feira de Inovações Tecnológicas em Genebra, na Suíça, em abril de 2013, com a apresentação da tecnologia.
Balanço produtivo e perspectivas - O uso das tecnologias tem contribuído para que desde o período de lançamento das primeiras variedades clonais em 1993 até o presente a produtividade média estadual aumentasse em 277% saltando de 9,2 para 34,7 sacas beneficiadas/ha, enquanto a produção aumentou em cerca de 304%, passando de 2,4 para 9,7 milhões de sacas, com um aumento de apenas 11% da área plantada. “É muito expressivo o avanço tecnológico da cultura do café conilon no Brasil, cujos trabalhos foram alavancados no Espírito Santo”, observa Aymbiré.
Até 2025, a cafeicultura do Espírito Santo tem um planejamento com ações bem definidas. O Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixapa (PEDEAG) estabelece metas para o café, como dobrar a produtividade e produção estadual com a produção de 30% do café superior, sem aumento de áreas plantadas. Para isso, ações foram definidas para curto, médio e longo prazo. Prioritariamente está o desenvolvimento de novas variedades, melhor manejo de irrigação, associação de cafés com árvores, certificação, mercado, a implantação do Programa Renova Sul Conilon e a continuidade do programa Renovar Café Arábica e Programas realizados pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Incaper e demais parceiros.
Renova Sul Conilon - Renovar e revigorar as lavouras de café conilon em 28 municípios capixabas, localizados na Região Sul, totalizando uma área aproximada de 70 mil hectares. Esse é o objetivo do programa, que irá beneficiar cerca de 20 mil famílias de agricultores de base familiar, totalizando 60 mil pessoas em sete mil propriedades. O objetivo é dobrar a produção anual de café conilon da região, passando de 1,6 milhões de sacas para 3 milhões e elevar a produtividade média do café conilon da Região Sul do Estado de 25,0 sacas beneficiadas por hectare para 42,9 sacas até 2025, segundo Aymbiré Fonseca.
De acordo com o coordenador estadual do Programa de Cafeicultura do Incaper, Romário Gava Ferrão, o programa deverá proporcionar a evolução semelhante às alcançadas nas regiões Nordeste e Noroeste do Espírito Santo no cultivo do conilon aos municípios da Região Sul. “No Sul, encontram-se 23% da área do café conilon plantado no Estado. No entanto, a produtividade média da região é 30% inferior à média do Espírito Santo, que é de 35 sacas por hectare. Por meio de pesquisa, fomento e transferência de tecnologia aos agricultores de base familiar, esperamos incrementar mais rapidamente a cafeicultura da região”.
Agronegócio café no ES - Presente em todos os municípios capixabas, exceto Vitória, é a atividade com maior poder de geração de empregos no Estado. A cafeicultura é o sustentáculo econômico de 80% dos municípios e responde por 43% do PIB agrícola capixaba. Toda a cadeia produtiva gera aproximadamente 400 mil postos de trabalho ao ano, de forma direta e indireta. Só no setor de produção, envolve 131 mil famílias, com tamanho médio das lavouras em torno de 8,3 hectares.
O estado é o único que tem produção significativa das duas espécies - arábica e conilon – com produção anual de cerca de 12,5 milhões de sacas colhidas em 60 mil propriedades, das quais, mais de 73% são de base familiar. A produtividade média registrada é de 27,77 sacas por hectare e a produção em 2012 foi de 12,5 milhões de sacas. Esses números colocam o Estado como o segundo maior produtor do Brasil, no ranking interno é o maior produtor de café conilon e o terceiro de café arábica.
Consórcio Pesquisa Café - Maior programa mundial de pesquisas de café, coordenado pela Embrapa Café. Essa rede integrada de pesquisa reúne instituições brasileiras de pesquisa, ensino e extensão estrategicamente localizadas nas principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva à interação entre as instituições e a união de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais, que permitem desenvolver projetos inovadores.
Criado por iniciativa de dez instituições ligadas à pesquisa e ao café: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, Instituto Agronômico - IAC, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras - Ufla e Universidade Federal de Viçosa - UFV.
As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com apoio financeiro do Funcafé, do Mapa.
Gerência de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café
Texto: Flávia Bessa – MTb 4469/DF
Fone: (61) 3448-1927
Site: www.embrapa.br/cafe
www.consorciopesquisacafe.com.br