A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig completa 39 anos neste mês de agosto. Uma das fundadoras e participantes do Consórcio Pesquisa Café, criado em 1997, a Epamig atua em diversos projetos do Consórcio, coordenado pela Embrapa Café.
Em 16 anos de pesquisas realizadas no âmbito do Consórcio Pesquisa Café, a Epamig tem se destacado no melhoramento genético do cafeeiro; a identificação e os estudos da biologia e do controle do bicho-mineiro, cigarras, ácaros e cochonilhas; o acompanhamento da evolução e alternativas de controle e manejo das principais doenças, como ferrugem, cercosporiose, complexo phoma e antracnose; os estudos do manejo do mato na melhoria das características químicas e físicas do solo; a avaliação e a recomendação do uso de gesso e de silício na nutrição do cafeeiro; a caracterização da qualidade da bebida dos cafés de Minas nas diferentes regiões do Estado e a adaptação e o desenvolvimento de tecnologia para a cafeicultura familiar. Vamos conhecer agora uma mostra das pesquisas desenvolvidas e resultados obtidos pela Epamig.
Cultivares – Um dos grandes destaques das pesquisas de café no âmbito do Consórcio Pesquisa Café na Epamig é o Programa de Melhoramento Genético do Cafeeiro, que lançou 11 cultivares de café e disponibilizou sementes e mudas aos produtores. Confira as cultivares lançadas depois da criação do Consórcio Pesquisa Café e suas principais características:
Oeiras MG 6851 – Tem porte baixo, diâmetro de copa reduzido, frutos vermelhos e graúdos, alto vigor vegetativo, excelente capacidade de adaptação.
Paraíso MG H 419-1 – É resistente à ferrugem e ao nematóide das galhas. Apresenta frutos amarelos, sementes grandes, folhas novas verdes e, quando adultas, verde-escuro brilhante, com as bordas ligeiramente onduladas. Tem porte baixo e diâmetro de copa reduzido.
Catiguá MG1 - Resistente à ferrugem e tem porte baixo e frutos vermelhos.
Catiguá MG2 – Resistente à ferrugem, tem porte baixo, frutos vermelhos e alto vigor vegetativo. Destaca-se pela excelente qualidade de bebida, chegando a atingir pontuação acima de 94 na escala da Specialty Coffee Association of America (SCAA).
Araponga MG1 - Resistente à ferrugem, tem porte baixo com boa arquitetura, frutos vermelhos, folhas verdes, alto vigor vegetativo e alto potencial produtivo.
Pau-Brasil MG1 - Resistente à ferrugem, tem frutos vermelhos, folhas novas verdes, porte baixo, além de alto vigor vegetativo, boa arquitetura e elevada produtividade. Essa cultivar também se destacou pela qualidade sensorial da bebida. Também atingiu pontuação acima de 94 na escala da SCAA.
Sacramento MG1 – Resistente à ferrugem, tem porte baixo, copa cônica, frutos vermelhos e folhas verdes. A cultivar se destaca pelo exuberante crescimento vegetativo e pela sua alta capacidade de produção inicial.
Catiguá MG3 – Resistente à ferrugem e ao nematóide das galhas. Possui frutos vermelhos, folhas novas de cor bronze, porte baixo e copa cônica.
MGS Travessia - Suscetível à ferrugem e possui frutos amarelos, brotos verdes e porte baixo.
MGS Paraíso 2 - Resistente à ferrugem, apresenta frutos amarelos, sementes grandes e porte baixo.
Sharchimor MG8840 – Resistente à ferrugem, tem porte baixo, frutos vermelhos e sementes grandes.
Futuro - Nos próximos cinco anos, a Epamig deverá lançar sete novas variedades de café em fase final de seleção com alto potencial produtivo e outras características de interesse que serão registradas como novas cultivares desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético da Empresa. São materiais resultantes do cruzamento genético de algumas cultivares em fase final de pesquisa, já conhecidas pelos cafeicultores, que serão registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa. De acordo com o pesquisador da Epamig Gladyston Carvalho, cinco dessas novas variedades são resistentes à ferrugem e atendem à cafeicultura em áreas montanhosas e as outras duas são recomendadas para colheita mecanizada e empresarial. Segundo o pesquisador, uma dessas sete cultivares será registrada em 2014 e disponibilizada ao produtor rural. “É uma cultivar resistente à ferrugem e tolerante a doenças, como antracnose, complexo Phoma”, explica. A planta tem fruto vermelho, porte baixo e atinge cerca de 2,30 metros de altura, o que atende à cafeicultura familiar. Em regiões de maior altitude, pode obter maturação mais precoce. “Ela tem uma bebida com o padrão do café brasileiro, semelhante às cultivares Catuaí e Mundo Novo”. As sete novas variedades foram testadas nas principais regiões produtoras de café de Minas Gerais.
Controle biológico - Outro estudo desenvolvido foi o levantamento das cochonilhas-farinhentas do cafeeiro, principalmente nas regiões produtoras do Brasil. Foi registrada a ocorrência de 15 espécies associadas ao cafeeiro na raiz e parte aérea. Dessas, quatro espécies são de importância primária e as restantes de baixa ocorrência. Nos estudos de resistência não foi detectada nenhuma espécie ou cultivar de cafeeiro resistente às cochonilhas. O levantamento dos inimigos naturais mostrou baixa incidência desses agentes no controle natural. Na busca de produtos alternativos de controle foram testados cerca de 200 extratos vegetais de plantas. Somente o extrato da casca de abacate mostrou resultados promissores.
Adubação - Os tratamentos experimentais com adubações realizadas completamente no inverno, ou em maior proporção nesse período, mostraram maiores produtividades dos cafeeiros do que aqueles com adubações realizadas no verão, numa média de quatro safras avaliadas. Esses resultados mostram que a adubação, principalmente nitrogenada, no período do inverno traz benefícios para a cultura. Cafeeiros sob efeito de altas adubações fosfatadas anuais também apresentaram expressiva produtividade, bem como cafeeiros no Sul de Minas sob sistema de plantio adensado e adubação com altas doses de nutrientes na região Sul de Minas Gerais.
Manejo do mato - Resultados positivos, inclusive com melhoria de qualidade, puderam ser verificados com manejo do mato (lavoura mantida sempre limpa) e com uso de herbicida pré-emergente. Por outro lado, o uso intensivo da roçadeira comprovou diminuir significativamente a produtividade.
Sistemas orgânicos e agroecológicos – Foi desenvolvida metodologia para avaliação de indicadores de qualidade de solos e lavouras de café agroecológicas e/ou orgânicas e modelos de implementação de cafeicultura orgânica e agroecológica para agricultura familiar em comunidades de baixa renda. Há ainda estudos sobre integração de sistemas de produção de forma que resíduos de um sistema são insumos para outros e tecnologia para sistematização da arborização de cafezais.
Manejo de pragas e doenças - No área de manejo de doenças do cafeeiro, foram identificados genótipos de cafeeiro com resistência a cercosporiose e mancha de phoma. Comprovou-se a relação entre o estado nutricional, espaçamento e a carga pendente com a incidência de cercosporiose e ferrugem do cafeeiro. Estão em andamento testes de eficiência de produtos naturais e/ou alternativos para controle de doenças do cafeeiro, sendo que, até o momento, muitos dos produtos testados mostraram-se eficientes. Pesquisas de manejo de pragas do cafeeiro apontam seleção de inseticidas e acaricidas com seletividade a inimigos naturais de pragas do cafeeiro para uso no Manejo Integrado de Pragas - MIP. Além disso, foi promissor o manejo ecológico do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro por meio da implantação de quebra-ventos com guandu e leucena.
Georreferenciamento - Estudos de georreferenciamento para caracterização física de ambientes cafeeiros utilizando geotecnologias (imagens de satélite e geoprocessamento) foram instrumento para Indicação Geográfica - IG, mais especificamente na denominação de origens de cafés para Indicação de Procedência (uma das modalidades da IG) do café da região da Serra da Mantiqueira. Nesse período foram gerados mais de 100 mapas de uso da terra, 50 deles para essa região. Os estudos na área deverão embasar pedidos de IG para outras regiões com potencial para serem reconhecidas pela produção de cafés de qualidade e com características típicas da região.
Epamig, estrutura e forma de atuação – A Epamig atua para fortalecer a agropecuária em Minas Gerais e, para isso, desenvolve projetos que valorizam as especificidades regionais e propõem inovações e alternativas às práticas agrícolas tradicionais. A Empresa realiza pesquisas que buscam a melhoria da qualidade dos alimentos e o desenvolvimento de novas tecnologias para aumentar a produtividade no campo, gerar mais renda para o produtor rural e melhorar a qualidade de vida. Além disso, oferece alternativas mais corretas e rentáveis para cafeicultura, fruticultura, bovinocultura, aquicultura e produção de sementes, grãos e hortaliças. Também pesquisa áreas emergentes como floricultura, agroenergia, silvicultura e meio-ambiente. Outro compromisso é levar aos produtores rurais, extensionistas e à comunidade científica essas tecnologias, por meio de publicações e eventos técnicos.
Para atender às demandas dos produtores mineiros e de diversas regiões do Brasil, a Epamig possui uma estrutura descentralizada. Além da sede administrativa (em Belo Horizonte), a Empresa conta com dois núcleos de ensino (Instituto de Laticínios Cândido Tostes, em Juiz de Fora, e Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo, em Pitangui), e cinco unidades regionais (Centro-Oeste, Sul de Minas, Norte de Minas, Zona da Mata e Triângulo e Alto Paranaíba) que coordenam seis núcleos tecnológicos (Florestas e Café; Uva e Vinho; Azeitona e Azeite; Batata e Morango; Floricultura); 28 fazendas e duas estações experimentais.
Consórcio Pesquisa Café – Criado em 1997, congrega instituições de pesquisa, ensino e extensão localizadas nas principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva a interação das instituições e a otimização de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais. Foi criado por dez instituições: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, Instituto Agronômico - IAC, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras - Ufla e Universidade Federal de Viçosa - UFV.
Avanços da cafeicultura no Brasil – Segundo o Informe Estatístico do Café - Dcaf/Mapa - a produção e a produtividade do café, em 1997, quando da criação do Consórcio Pesquisa Café, era de 2,4 milhões de hectares de área cultivada, com produção de 18,9 milhões de sacas de 60kg e produtividade de 8,0 sacas/hectare. Passados 16 anos, em 2013, de acordo com o segundo levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab (maio/2013), com praticamente a mesma área cultivada – 2,3 milhões de hectares - o País deverá produzir 48, 5 milhões de sacas, com produtividade de 23,8 sacas/ha.
Gerência de Transferência de Tecnologia
Texto: Flávia Bessa – MTb 4469/DF
Fone: (61) 3448-1927/1979