“Tendências de consumo e novas oportunidades para os cafés do Brasil”, esse foi o tema da segunda palestra proferida durante o VIII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, que ocorre de 25 a 28 de novembro no Fiesta Bahia Hotel, em Salvador-BA. A palestra foi ministrada a partir de dois focos: mercado interno, pelo professor da Universidade Federal de Lavras – Ufla – Luiz Gonzaga de Castro Júnior, e mercado externo, pelo gerente-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil - Cecafé, Guilherme Braga.
Foco interno - “Inovação é importante na produção de qualquer alimento, mas no caso do café foi a inovação que fez com que esse produto chegasse a ser a segunda bebida consumida no mundo, só perdendo para a água”. Foi falando sobre inovação que Luiz Gonzaga de Castro Júnior, da Universidade Federal de Lavras, deu início à sua palestra. De acordo com ele, a inovação move o consumo de alimentos e os determinantes para isso são educação, população, demografia, renda e urbanização. Esses determinantes, por sua vez, fundamentam as cinco principais tendências para o consumo: sensorialidade e prazer, saudabilidade e bem-estar, conveniência e praticidade, confiabilidade e qualidade e sustentabilidade e ética. São tendências que se ligam a sentidos e que respondem a demandas impostas pela urbanização crescente e mudanças nos hábitos de vida das populações, cada vez mais exigentes por praticidade e segurança alimentar e por selos que indicam procedência, rastreabilidade e qualidade, entre outros atributos.
Gonzaga traçou um histórico sobre a inovação na indústria do café – pincelou imagens das primeiras máquinas de torrefação, chegando às máquinas que hoje transformam quase instantaneamente cápsulas de café nas bebidas prontas. Mencionou a importância da apresentação das embalagens e dos ambientes das cafeterias. “Inovação, portanto, não é focada apenas no produto”, afirmou o palestrante que evoluiu em sua palestra para a apresentação de dados sobre o mercado de café, incluindo comparações sobre a produção de países concorrentes e sobre o comportamento do robusta e do arábica, e sugestões para a sustentabilidade do setor cafeeiro.
“Se a indústria cresce, o setor produtivo está vivendo de esperança”, disse. Ele se referia às expectativas dos produtores por apoio governamental ou por circunstâncias que favoreçam o aumento do preço do café brasileiro, a exemplo da queda da produção de países concorrentes. “Mas não se pode viver de esperança, é preciso que se tomem decisões racionais e, para isso, o produtor precisa contar com números e informações confiáveis, o que nem sempre acontece”.
Luiz Gonzaga citou problemas da cafeicultura brasileira, como a baixa competitividade por causa dos custos de produção, inclusive no que se refere à mão de obra cara, ausências de políticas que possam beneficiar o setor – “as que existem hoje são paliativas” – e a falta de orientações aos produtores por parte das cooperativas e associações, além dos “investimentos errados na hora errada”. Os caminhos para a sustentabilidade passam, segundo ele, pela melhoria da produtividade, políticas públicas, seguro, linhas de financiamento, verticalização para a agricultura de montanha e foco na gestão. “Não adianta correr atrás de mecanização e qualidade se não existir gestão.”
Gonzaga forneceu dados sobre o mercado. Disse que, quando se fala em arábica, o grande vencedor nos últimos anos foi o Brasil, responsável por cerca de 14 milhões de sacas das 17 milhões que foram adicionadas à produção mundial no período de 1990 a 2012 . No caso do robusta, foi o Vietnã. Encerrou mostrando números relacionados à crise de preços. “Quando a produção é superior ao consumo, o preço cai, é certo. E nossas análises mostram que se a produção cresce em 1% a mais que o consumo, o preço cai em 1,5%. Ou seja, pequenas oscilações na produção frente ao consumo geram impactos maiores no preço”.
Foco externo - Guilherme Braga mostrou alguns números atuais do consumo mundial de café. Segundo ele, o mercado de café está em torno de 142 milhões de sacas produzidas, 41% delas consumidas pelos próprios países produtores e 69% pelos países importadores. Com relação ao perfil de consumo, mercados tradicionais, formado pelos EUA, Europa, Japão entre outros países, têm mantido preferência pelo consumo de café arábica (60%, contra 40% de robusta). Já nos mercados emergentes, como Leste Europeu, Coréia, Austrália, África do Sul, entre outros, 75% do café consumido é robusta, mas observa-se tendência de expansão do consumo em ambas as espécies de café. Do ponto de vista da produção mundial, 56% do volume consumido é de robusta e 44%, arábica. “Esses números, em específico, refletem situação não definida, não consolidada, o mercado tem sua dinâmica e os preços hoje praticados obviamente influenciam esse panorama atual”, opinou.
Nos países produtores, que consomem 43,4 milhões das sacas produzidas mundialmente, de acordo com os dados do Cecafé, a espécie mais consumida é também a robusta (70%), contra 30% de arábica, sendo que 74% do volume consumido é proveniente dos próprios países que produzem o produto, 23% são exportações entre os produtores e 3%, re-exportações das importações.
Em contrapartida, o arábica responde por 61% da produção. No Brasil, essa preponderância se mantém; 76% da produção brasileira é arábica e a produtividade nacional é a maior do mundo: 23,48 sacas por hectare de arábica e 24,27, de robusta. A participação brasileira nas exportações mundiais diminuiu em 2012 e tem perspectiva de leve incremento este ano. “Essa conjuntura é reflexo dos baixos preços do produto e da estocagem de café. O lado positivo nesse cenário de crise é que o mercado mundial de café continua crescendo e deverá gerar 5,4 bilhões de dólares de receita”, avaliou Braga.
De acordo com o gerente-geral, a crise cafeeira aponta desequilíbrio de produção e consumo mundial e deverá persistir pelos próximos dois ou três anos. “Nos países produtores, há consciência de que não vale a pena abrir mão de seus mercados. No caso brasileiro, é preciso reduzir custos para o produtor, incentivar financiamentos e subsídios adequados, regular o escoamento de safras e o fluxo de negócios, focados no processo de produção e estimular indústrias para aumentar estoques e demanda interna, medidas essas que devem ser tomadas continuamente e não somente em momentos de crise”, concluiu Guilherme Braga.
Sobre o Simpósio - O Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil é realizado a cada dois anos pelo Consórcio Pesquisa Café, coordenado pelaEmbrapa Café. O principal objetivo do evento é promover ampla discussão com a comunidade científica e com representantes dos diversos setores da cadeia produtiva do café sobre conceitos modernos de produção para estimular debates permanentes de temas relacionados ao agronegócio café, que visem garantir o aumento da competitividade, melhoria da qualidade do produto e a sustentabilidade do setor cafeeiro, com inclusão social. O público-alvo constitui-se de pesquisadores, técnicos, professores, estudantes universitários, extensionistas, lideranças de associações e cooperativas, empresários, cafeicultores e demais segmentos interessados no desenvolvimento do agronegócio café, imprensa especializada e comunidade em geral, do país e do exterior. Essa é a 8ª. Edição do evento. O tema deste ano é “Sustentabilidade e inclusão Social”.
Assessoria de Imprensa do VIII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil
Texto:
Carolina Costa - MTb 7433/DF
Flávia Bessa – MTb 4469 - DF
Marita Féres – MTb 2264 – DF
Contatos: 61 9221-9484 – Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
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