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Instituto Agronômico – IAC completa 127 anos

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Responsável por 90% das cultivares de café arábica plantadas em terras nacionais, o IAC é pioneiro e referência secular na pesquisa de café no Brasil

Que o Brasil teve seu processo de desenvolvimento e identidade nacional influenciados pela cultura do café do século XIX até meados do século XX, não é novidade. O que provavelmente poucos sabem é que esse papel histórico-cultural foi possível graças à colaboração de pesquisadores e demais servidores do Instituto Agronômico – IAC, instituição participante do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. As pesquisas de café no Instituto são coordenadas pelo Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Café “Alcides Carvalho”, com apoio do Centro de Recursos Genéticos Vegetais e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Ecofisiologia e Biofísica, ambos do IAC.

Pesquisas realizadas pelo IAC na área de café, com foco no desenvolvimento de cultivares, adequação de adubação, espaçamentos, densidade populacional, sistemas de podas e irrigação, dentre outros, foram fundamentais para o estabelecimento da base tecnológica para a modernização da cafeicultura brasileira. De forma direta ou indireta, essas pesquisas contribuíram significativamente para a cafeicultura brasileira ser o que é hoje, altamente produtiva e considerada uma das melhores do mundo.

Para ter ideia da importância histórica e atual do Instituto, as cultivares Mundo Novo e Catuaí, desenvolvidas pelo IAC, são alicerces e carros-chefe da cafeicultura brasileira e representam cerca de 90% dos cafeeiros arábicas cultivados. As duas se adaptam a diversos sistemas de produção em praticamente todas as regiões produtoras. Além dessas, desde sua criação, o Instituto desenvolveu 65 cultivares de café arábica.

“Apesar das dificuldades relacionadas a recursos financeiros, pessoal de apoio e pesquisadores, pelas quais passamos nos últimos anos, nossa pesquisa se mantém ativa e mostra resultados excelentes a cada ano. Temos o mais antigo programa de pesquisa cafeeira do Brasil, ao mesmo tempo moderno, pois estamos em contínuo processo de evolução e adequação às novas demandas”, diz o diretor do Centro de Café do IAC, Gerson Silva Giomo.

Contribuições da pesquisa - Também pode-se destacar entre as contribuições do IAC: cultivares resistentes à ferrugem, trabalhos com adubação do solo que viabilizaram o cultivo do café no Cerrado e em processamento pós-colheita - que incluem o desenvolvimento do processo cereja descascado e de tecnologia para café despolpado - e estudos pioneiros em secagem, colheita mecanizada, fisiologia do cafeeiro, preparo do solo, arborização, melhoramento genético, armazenamento de sementes e grãos, agroclimatologia - que trouxe grande contribuição ao zoneamento climático - zoneamento agrícola, orientações para a mitigação dos efeitos do aquecimento global, análises químicas do solo, folhas e sementes, fertilização química, enxertia, taxonomia e evolução das cultivares e espécies de Coffea spp, e melhoria da qualidade do produto com o enfoque da produção de cafés especiais.

Segundo Giomo, no início dos anos 50, o IAC realizou os primeiros estudos sobre a adaptação de cafeeiros às diversas condições climáticas, incluindo a microclimatologia relacionada a conceitos e métodos de defesa de geadas. “Hoje, o IAC conta com um acervo de informações meteorológicas de mais de cem anos. A contribuição do Instituto nessa área contempla o zoneamento climático para a cafeicultura no estado de São Paulo, modelos agrometeorológicos para a previsão de safra, estudos do efeito do clima na fisiologia dos frutos, bem como estudos de ações mitigadoras do efeito do aquecimento global sobre a cafeicultura”, salienta.

Descrição detalhada de tecnologias:

Cultivares de café - O extenso programa de genética e melhoramento do cafeeiro do IAC, desde 1932, já desenvolveu, selecionou, lançou e recomendou para plantio inúmeras cultivares de café para as mais diversas regiões cafeeiras do estado de São Paulo, do Brasil e de outros países produtores de arábica. Entre elas, destacam-se as cultivares Catuaí Vermelho (IAC 99 e IAC 144), Catuaí Amarelo IAC 62, Mundo Novo (IAC 388-17, IAC 379-19 e IAC 376-4), Acaiá IAC 474-1, Icatu Vermelho IAC 4045, Icatu Amarelo IAC 2944, Icatu Precoce IAC 3282, Bourbon Vermelho IAC 662, Bourbon Amarelo (IAC J9, IAC J10 e IAC J20), Ibairi IAC 4761, Laurina IAC 870, Obatã IAC 1669-20, Ouro Verde IAC H5010-5, Caturra Vermelho IAC 477, Caturra Amarelo IAC 476, Tupi IAC 1669-33, IAC 125 RN, IAC Obatã 4739 e Apoatã IAC 2258 (porta enxerto).

Fertilidade e adubação - Os trabalhos pioneiros de correção e adubação de solos que permitiram a expansão do cultivo do café em solos de Cerrado foram realizados pelo Instituto Agronômico - IAC em experimentos na região de Batatais, em ambiente típico de Cerrado no Estado de São Paulo. Pesquisas realizadas nessa região entre 1958 e 1969 com a cultivar Mundo Novo IAC 379-19 indicaram a viabilidade técnica e econômica do cultivo do cafeeiro arábica em solos de baixa fertilidade natural, mediante a aplicação racional de calcário e fertilizante químicos. O experimento foi alvo de incontáveis excursões de interessados, de todas as regiões do País, que, nos anos seguintes, iniciaram o plantio de café nos "solos de Cerrado" da região Mogiana Paulista, e, posteriormente, ocuparam com sucesso outras áreas tidas como improdutivas das regiões de Minas Gerais e outros Estados vizinhos. O desenvolvimento da cultura do café em áreas de Cerrado, com topografia tipicamente plana, incentivou o desenvolvimento de uma cafeicultura 100% mecanizada e altamente tecnificada, com sensível redução do custo de produção.

Colheita mecânica – Na década de 70, o IAC foi responsável pelos primeiros estudos com colheita mecânica do café. Na época, o Instituto importou e adaptou para a colheita de café uma colhedeira mecânica de cerejas. Mais tarde, o projeto foi transferido para a iniciativa privada, que o melhorou e validou o equipamento, e acabou lançando a primeira colhedeira de café do mundo. Além da colheita mecanizada permitir uma colheita mais rápida, estima-se que pode reduzir cerca de 40% dos custos de produção.

Pioneirismo também na poda do café – Para gerar alternativa de baixo custo para revigorar a planta, estudos feitos no IAC contribuíram para o estabelecimento da poda racional do cafeeiro, que recupera a lavoura e viabiliza nova colheita emdois anos. Para renovar o cafezal com novos cafeeiros, o custo gira em torno de R$ 9 mil a R$ 13 mil por hectare e, além disso, nova colheita é feita somente depois de quatro anos. No caso da poda, os custos são menores e variam de acordo com o tipo de poda, idade da planta e estado nutricional e vegetativo da lavoura.

Sistema de plantio em renque ou adensado – Essa tecnologia é utilizada em pelo menos 95% das áreas mecanizáveis de café e viabilizou a mecanização total da lavoura, pois favorece a racionalização dos tratos culturais e redução dos custos de produção. Consiste em colocar uma planta por cova, com distância de 0,50 m a 1 metro na linha de plantio, variando de 2 m a 4 m o espaço entre as linhas, totalizando, por hectare, de 2500 a 10 mil plantas. No sistema tradicional, são usados espaçamentos largos e utilizadas duas plantas por cova, resultando em 2 mil plantas por hectare. Os estudos de número de plantas e disposição de plantas na cova, bem como os tratos culturais, foram fundamentais para o estabelecimento do plantio em renque.

Novas tecnologias de café - A partir de 1997, com a criação do Consórcio Pesquisa Café, as pesquisas com café conduzidas no IAC ganharam novo impulso. Confira algumas pesquisas e tecnologias geradas pelo IAC com o apoio do Consórcio:

Genoma Café - Na área de pesquisas biológicas, um fato marcante a partir da constituição do Consórcio foi a participação efetiva de pesquisadores do IAC e de Unidades da Embrapa no Projeto Genoma Café, que, numa primeira fase, desenvolveu o sequenciamento do genoma café, resultando na construção de um banco de dados com mais de 200 mil sequências de DNA. Isso permitiu a identificação de mais de 30 mil genes, responsáveis pelos diversos mecanismos fisiológicos de crescimento e desenvolvimento do cafeeiro. Atualmente as pesquisas são dirigidas à análise das sequências agregando-lhes função por meio de trabalhos de identificação de marcadores moleculares e de promotores gênicos para dar continuidade ao melhoramento genético do cafeeiro. Há expectativas de ocorra reflexos na redução do custo de produção, na proteção ambiental e no incremento de produtividade das lavouras, com melhoria da qualidade da bebida e da competitividade do produto.

Sistema para expressão dirigida de genes em raízes e em tecidos foliares - O IAC desenvolveu, em parceria com a Embrapa Café e com a Unesp-Botucatu, dois sistemas para transformação de plantas, mediante uso de informações geradas pelo Projeto Genoma, que permitem a introdução de genes em tecidos foliares e em raízes de cafeeiros. O sistema consiste em dois promotores obtidos de plantas de café que permitem direcionar e controlar a expressão de genes a eles associados: o Promotor CalsoR, que atua nas folhas, e o Promotor Caperox, que age nas raízes em resposta a um estímulo externo. A técnica também pode ser usada para o melhoramento de várias espécies vegetais de interesse econômico, além do café. As tecnologias têm pedidos de patentes registrados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial - Inpi.

Novas cultivares – O Consórcio apoiou e financiou o processo final de seleção de mais cinco cultivares de café desenvolvidas pelo IAC: cultivar Tupi IAC 1669-33, Obatã IAC 1669-20, IAC 125 RN, IAC Obatã 4739 (Obatã Amarelo) e IAC Ouro Verde. Todas têm boas características agronômicas, como alta produtividade, porte baixo e ótima qualidade. Essas cultivares têm produtividade média de 50 sacas de café beneficiado/ha em áreas irrigadas. Nas regiões não irrigadas suas produtividades variam de 30 a 45 sacas por hectare.  A Tupi RN IAC 1669-13 é a mais precoce de todas, seguida da Ouro Verde IAC H 5010-5, que têm maturação média e, por último, a IAC Obatã 4739 e Obatã IAC 1669-20, que são de média a tardia. Com essa diferença de maturação, o produtor pode colher o café em períodos diferentes, o que permite distribuir melhor a colheita e diminuir a quantidade de mão de obra empregada. Três cultivares são resistentes à principal doença foliar do café: a ferrugem (Obatã IAC 1669-20, IAC Obatã 4739 e Tupi RN IAC 1669-13) e podem dispensar a aplicação de defensivos agrícolas destinados ao controle químico da doença. Essas cultivares são recomendadas para plantio em todas as regiões produtoras de café do Brasil.

Genes responsáveis pela qualidade do café arábica – É outra pesquisa desenvolvida pelo IAC no âmbito do Consórcio Pesquisa Café, e ainda com financiamento também da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp, que tem fornecido também subsídios para pesquisas de melhoramento genético do cafeeiro. O estudo verificou que boa parte dos genes expressos na espécie de café arábica parece ser proveniente de Coffea eugenioides, uma espécie pouco usada nos programas de melhoramento genético do café e sem qualquer uso comercial. As pesquisas inéditas identificaram genes potenciais responsáveis pela qualidade do café e comprovaram também que a melhor qualidade do Arábica se dá pela maior expressão de genes da produção de açúcares encontrados em seu material genético.

Café naturalmente sem cafeína – O estudo com o cafeeiro descoberto pelo IAC permitirá que amantes do bom cafezinho com sensibilidade à cafeína possam vivenciar a paixão pela bebida, sem que tenha havido nenhum processo químico de extração da cafeína. Os pesquisadores estão realizando testes em plantas cujo teor da substância é de apenas 0,07%, ou seja, 10 vezes menos que o café consumido habitualmente, da espécie Coffea arabica. Mudas clonadas obtidas por estaquia ou cultivo in vitro de matrizes selecionadas em função de sua superioridade agronômica, como produção de frutos e resistência aos principais agentes bióticos da cultura, encontram-se em ensaios de campo desde 2007. A nova cultivar de café naturalmente sem cafeína, denominada IAC 045125, ainda em pesquisa, foi obtida a partir de genótipos conservados no Banco Ativo de Germoplasma - BAG de Coffea arabica mantido pelo IAC e foi protegida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2011. O acesso foi introduzido no Banco do IAC a partir de plantas originárias da Etiópia vindas de um centro de pesquisa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) na Costa Rica. Os estudos têm o objetivo de gerar produto com valor agregado, sem os custos da descafeinização química e com a preservação do sabor e aroma natural do café.

Banco de germoplasma do IAC – O Instituto mantém o maior e mais antigo Banco de Germoplasma – BAG de café do país, com 5.451 registros. Com essa diversidade, contribui para significativos resultados na pesquisa cafeeira há 80 anos. Os trabalhos de caracterização morfológica, agronômica, química e molecular feitos com os materiais genéticos mantidos nos Bancos de Germoplasma são contínuos, bem como a introdução de novos acessos por meio de intercâmbio de registros com bancos de instituições nacionais e internacionais. Todo esse esforço garante resultados efetivos, com precisão quanto à cultivar de café desejada. Além da contribuição científica, fundamental para o avanço das pesquisas de melhoramento genético do café, o Banco de Germoplasma do IAC preserva diversas espécies em Campinas e Mococa (SP). A coleção mantida pelo Centro de Café Alcides Carvalho do IAC é formada por cerca de trinta mil cafeeiros pertencentes às espécies Coffea arabica, C. canephora, C. congensis, C. eugenioides, C. liberica, C. racemosa, C. salvatrix, C. kapakata, C. stenophylla, C.millotii, C. sessiliflora, C. heterocalyx, C. humilis, C. anthonii, Psilanthus ebracteolatus e P. travancorensis. Reúne grande diversidade de mutantes, formas botânicas, variedades exóticas e introduções oriundas dos centros de origem e de diversificação de C. arabica e C. canephora, principais espécies cultivadas.

Mais sobre o IAC - O Instituto Agronômico foi criado em 27 de junho de 1887 pelo Imperador do Brasil, Dom Pedro II, com o objetivo primeiro de assistir tecnicamente ao desenvolvimento da cafeicultura nacional, que estava em decadência naquela época. Portanto, pode-se dizer que o IAC tem suas raízes no café, desde a origem. O programa de melhoramento genético do cafeeiro do IAC foi estabelecido em 1932, acumulando até agora 82 anos de ininterruptas pesquisas e atividades de desenvolvimento tecnológico para a cafeicultura brasileira. Atualmente o Centro de Café "Alcides Carvalho" é formado por uma equipe multidisciplinar de cientistas envolvidos em inúmeras atividades de pesquisa e desenvolvimento e de transferência de tecnologia. O Centro de Café coordena o Programa Café do IAC com apoio de outros Centros de Pesquisa do IAC e de outras unidades de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). Esse esforço de pesquisa já permitiu a produção de trabalhos clássicos da literatura agronômica brasileira sobre o produto, gerando soluções para os mais diversos segmentos da cadeia produtiva do café, não só no País, mas também em países da América Central e Latina.

Saiba mais sobre a história do Centro de Café e as principais contribuições para a cafeicultura paulista e nacional, sobre as cultivares, a Embrapa Café e o Consórcio Pesquisa Café:

http://www.iac.sp.gov.br/areasdepesquisa/cafe/centrocafe2.php

http://www.agricultura.gov.br/vegetal/registros-autorizacoes/registro/registro-nacional-cultivares

https://www.embrapa.br/cafe

http://www.consorciopesquisacafe.com.br

 

Gerência de Transferência de Tecnologia

Texto: Flávia Bessa – MTb 4469/DF
Contatos: Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. / (61) 3448-1927
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