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Universidade de Brasília - UnB e Universidade de Lavras - Ufla pesquisam estratégias para a competitividade do café brasileiro

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Para professor da UnB, “pesquisa, tecnologia e exploração de novos nichos de mercado são grandes aliados”. O estudo tem apoio do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café.

 

O Brasil é o maior produtor e exportador de café e está próximo de se tornar também o maior consumidor mundial. De janeiro a dezembro de 2013, as exportações do complexo geraram US$ 5,275 bilhões, o que representou 5,3% das exportações do agronegócio brasileiro. E o Valor Bruto da Produção – VPB, nesse mesmo período, correspondeu a R$14,132 bilhões. A cadeia produtiva do café passa por constantes mudanças no mundo e o Brasil precisa dispor de mecanismos e ferramentas de inteligência competitiva que ofereçam informações rápidas, para subsidiar políticas públicas que permitam manter nossa posição de principal protagonista do setor cafeeiro. Assim, tamanha importância econômica torna imprescindível que o País esteja preparado para enfrentar os desafios competitivos do século XXI.

 

Para obter e disponibilizar informações estratégicas qualificadas, que orientem essas políticas para o setor cafeeiro, a Embrapa Café, como coordenadora do Consórcio Pesquisa Café, tem estimulado o desenvolvimento de projetos de pesquisa para monitorar, analisar e difundir informações e indicadores relevantes que permitam manter a competitividade de todos os elos da cadeia de forma sustentável.

 

A Embrapa Café entrevistou o professor José Márcio Carvalho, da Universidade de Brasília – UnB, a respeito de sua pesquisa “Identificação das estratégias de agregação de valor na indústria do café”, que integra o projeto do Consórcio “Criação de difusão de inteligência competitiva para a cafeicultura brasileira”, realizado em parceria com a Universidade Federal de Lavras - Ufla e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – Cefet-MG. O professor fala da importância da cultura do café para o País, novas oportunidades de negócios, tendências e desafios e ainda destaca o papel da Pesquisa e Desenvolvimento e das políticas públicas para manter a liderança mundial do Brasil na produção e exportação do produto.  

 

José Márcio possui graduação em Agronomia e mestrado em Administração pela Universidade Federal de Lavras – Ufla e doutorado em Administração pela Universidade de Reading, Reino Unido. Atualmente é professor adjunto da UnB. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Negócios Internacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: agronegócio, negócios internacionais, operações e gestão de projetos.

 

Embrapa Café: O agronegócio café é uma das atividades que se destaca historicamente na balança comercial brasileira com expressiva geração de divisas. Poderia dar um panorama histórico da cultura no País até os dias atuais e sua importância sociopolítica e econômica para o desenvolvimento nacional?

José Márcio: Na pauta de exportações do agronegócio brasileiro, o complexo café aparece em quinto lugar. É precedido pelo complexo soja, complexo carnes, complexo sucroalcoleiro e pelo complexo cereais + rações e preparações. Entre esses segmentos do agronegócio, é o café que tem um impacto social mais extensivo, pois partes significativas da produção de café usa mão de obra com baixo nível de qualificação. O café está no epicentro da formação econômica brasileira. Durante período bastante extenso da nossa história, foi o principal produto na pauta de exportações, ou seja, era a atividade econômico-produtiva que mais trazia divisas para o país. 

 

Embrapa Café Sabe-se que o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café? Essa posição corre algum risco nos próximos anos? Como o País deve se preparar para manter essas posições?

José Márcio: Embora seja baixa a chance de o Brasil perder a liderança mundial na produção e exportação de café, esse cenário pode se tornar possível em um futuro distante. O Vietnã, segundo maior exportador, tem apresentado produções crescentes de café, principalmente café robusta, para atender o mercado asiático. Deve-se ressaltar os principais aumentos de demanda por café que provavelmente virão da Ásia, mercado esse onde o Vietnã e a Indonésia estão bem posicionados. Além disso, a importância do Brasil no mercado internacional de café é relativa, pois aumentos de produção estão ocorrendo em diferentes pontos do globo. No mercado demandante, também aumenta o interesse por experimentar uma maior diversidade de origens de café.

A melhor maneira de assegurar a liderança mundial do Brasil no mercado de café é aumentar a competitividade do setor por meio do desenvolvimento de pesquisas e tecnologias capazes de racionalizar a produção de café e reduzir custos de produção e, ainda, o apoio a uma cafeicultura heterogênea, capaz de atender diferentes nichos de mercado de café. 

Outra frente importante é a atração de empresas e capital para o setor, em outras palavras, organizações que possam gerar novos modelos de negócios e obter ganhos de produtividade na produção agrícola, no processamento primário e no processamento industrial. Ganhos estratégicos expressivos poderiam ser obtidos também por empresas que fossem mais inovadoras nas atividades de comercialização e marketing, tanto no mercado local quanto no mercado internacional.

 

Embrapa Café: Fala-se que o Brasil está próximo de se tornar o maior consumidor de café do mundo. A melhoria na qualidade do café impulsiona o aumento do consumo?

José Márcio: As taxas de crescimento do consumo de café no mercado interno indicam que o Brasil pode se tornar o maior mercado consumidor de café do mundo. A literatura científica sobre café indica que o crescimento do consumo de café no País está relacionado à renovação do setor após a desregulamentação que ocorreu na década de oitenta. Esse fato permitiu a diferenciação do café e que se disponibilizasse novos tipos de melhor qualidade, frutos do investimento em pesquisa. Isso atraiu o interesse de um público consumidor muito importante: os jovens.

 

Embrapa Café: Quais são as novas tendências e oportunidades de negócios e desenvolvimento dos cafés do Brasil visando à participação crescente no mercado de café nacional e mundial? Como o País está caminhando para melhor aproveitar o momento?

José Márcio: Muitas oportunidades no setor de café estão relacionadas aos ganhos de produtividade que podem ser conquistados a partir do uso mais intensivo de tecnologias. Muitas vezes, essas novas tecnologias estão relacionadas à mecanização e ao emprego de equipamentos mais sofisticados. Essas mudanças implicam uso mais intensivo de capital e/ou trabalho nas atividades de produção, algo que pode ser uma séria restrição a uma parcela significativa de produtores rurais menos capitalizados e com menor capacidade de se apropriar de novas técnicas de produção.

Outra fonte de expansão para a cafeicultura seria a exploração de nichos de mercado, tais como os cafés orgânicos e os cafés especiais. Esses dois nichos de mercado ainda têm um baixo volume de demanda, mas estão em crescimento. Deve-se ressaltar que ocupar espaços nesses dois mercados não é uma tarefa fácil, pois envolve adaptação, transição e manutenção. Os cafeicultores que queiram se tornar aptos a atuar em nichos de mercado precisam desenvolver a capacidade de lidar com sistemas de registro de suas atividades produtivas que sejam mais avançados. O Certifica Minas Café é um bom exemplo de preparação para certificação, pois incentiva à rastreabilidade e à melhoria contínua de qualidade nos sistemas de produção. 

 

Embrapa Café: Os cafés especiais, diferenciados por sua qualidade e agregação de valores socioambientais, têm ganhado espaço no mercado, especialmente no internacional. O que caracteriza um café como especial, quais os principais critérios de avaliação e como têm influenciado o setor produtivo?

José Márcio: Os cafés especiais são selecionados principalmente por seus atributos sensoriais (sabor, odor e aroma). Sistemas mais acurados de avaliação de qualidade podem ser um grande aliado dos produtores que se preocupam em produzir cafés de melhor qualidade. O surgimento de normas mais criteriosas como as publicadas pela Specialty Coffee Association of America - SCAA, Brazil Specialty Coffee Association - BSCA, Specialty Coffee Association of Japan - SCAJ ou a Speciality Coffee Association of Europe - SCAE indicam a necessidade de se descobrir quais atributos sensoriais são mais interessantes para o café. Ao se identificar esses atributos, torna-se mais fácil a adaptação de sistemas de produção capazes de ajudar a obter esses atributos. 

Um dos principais reflexos do surgimento desses novos sistemas de avaliação da qualidade do café foi a democratização do conhecimento sobre avaliação de café, de tal maneira que os produtores rurais puderam saber de fato a real qualidade de seu café, podendo, assim, cobrar preço compatível com esse nível de qualidade. Muitos produtores rurais deixaram de ser enganados por compradores oportunistas que pagavam preços inferiores para cafés de qualidade superior.

 

Embrapa Café: O setor produtivo do café está passando por profundas transformações no mundo todo. No Brasil, quais são as principais? Que ações estão sendo feitas para melhorar o desempenho no mercado interno e externo?

José Márcio: No Brasil, a principal mudança nos últimos anos foi o contínuo crescimento da demanda de café e o surgimento (ainda muito limitado) da demanda por cafés especiais nos grandes centros do País. A maneira de consumir o café também se diversificou. Do tradicional café coado e adoçado que são servidos em padarias e bares, passou-se a servir o café expresso ou ainda diversos outros sistemas de preparo. As cafeterias, anteriormente muito restritas aos grandes centros, estão se disseminando geograficamente, tornando-se ponto de encontro ou mesmo de trabalho. Produtores de cafés e intermediários comerciais tiveram de se adaptar a essa nova realidade com padrão de qualidade superior.

A respeito de mercados internacionais, resta ainda muito a fazer. No Brasil, ainda predomina um sistema de comercialização com muitos intermediários, que agregam muito pouco ao produtor rural e ao consumidor final. Ainda estão em evolução sistemas mais avançados de comercialização que façam uso de conceitos como gestão de qualidade, logística e internacionalização.

 

Embrapa Café: Que estratégias de marketing devem ser realizadas para os cafés do Brasil? E para os dos cafés especiais do Brasil, particularmente?

José Márcio: Não existe uma resposta simples para essa pergunta. O Brasil, com suas dimensões continentais, abriga uma diversidade muito grande de sistemas de produção de café. Não existe na realidade o "Café do Brasil". O que existe são os "Cafés do Brasil". Cada um dos diferentes sistemas de produção nas diversas regiões de produção ocupa nichos que são diferentes. Para realidades de produção que são diferentes, existirão ferramentas de marketing diferentes. O surgimento de uma identidade própria nas diversas regiões produtoras (Café do Sul de Minas, Café do Cerrado, Café da Chapada de Minas, Café das Matas de Minas, Café de São Paulo - Mogiana, Café de São Paulo - Centro Oeste, Café do Norte Pioneiro do Paraná, Café das Montanhas do Espirito Santo, Conilon Capixada, Café da Bahia - Cerrado, Café da Bahia - Planalto, Café de Rondônia) é uma clara indicação que cada uma dessas novas organizações pode utilizar diferentes ferramentas de marketing que atendam suas necessidades e capacidades de investir. O marketing e suas ferramentas de posicionamento ajudarão a encontrar os segmentos de mercado ou mesmo nichos de mercado que podem ser ocupados pelas diferentes regiões produtoras. Isso é válido tanto para o mercado interno quanto para os mercados internacionais.

 

Embrapa Café: Sobre o seu projeto de pesquisa para “Identificação das estratégias de agregação de valor na indústria do café”, que vai complementar os estudos do projeto “Criação difusão de inteligência competitiva para cafeicultura brasileira”, do Consórcio Pesquisa Café, poderia falar sobre objetivos, resultados já alcançados e potenciais impactos para a economia cafeeira?

José Márcio: Sobre o segmento de processamento industrial, muito pode ser revelado pela sua posição estratégica, ou mais especificamente sobre como as operações de produção estão estrategicamente estruturadas para capturar uma parte significativa do consumo. A maneira como as atividades de produção agrícola podem ser organizadas ou ainda quais segmentos do mercado de consumo serão alcançados pelos diferentes produtos da empresa processadora decorrem da estratégia de produção. O foco dos esforços de pesquisa, que está em fase de desenvolvimento dos instrumentos de coleta de dados, está em identificar e descrever as prioridades competitivas e as estratégias de operações ao longo de uma cadeia produtiva. Esse foco de análise tem a vantagem de ajudar a identificar quais estratégias específicas de operações podem ajudar uma organização a conquistar uma participação maior em seu mercado de atuação. É importante também fazer a seguinte contraposição: comparar as estratégias tradicionais que garantem a participação da empresa em um mercado em oposição as estratégias que visam ajudar a organização agregar mais valor ao longo da cadeia de produção e consumo. É justamente esse segundo tipo de estratégia que tem o poder reposicionar uma empresa em seu mercado de atuação.

 

Embrapa Café: Gostaria de complementar essa entrevista com algum comentário?

José Márcio: Sim, tenho a dizer que o Consórcio de Pesquisa Café tem se mostrado uma ótima plataforma para o trabalho colaborativo entre pesquisadores de diferentes instituições. À medida que as colaborações aconteçam ainda mais, esse arranjo institucional tende a consolidar resultados tanto de pesquisa quanto de extensão.

 

Consórcio Pesquisa Café - Criado em 1997, congrega instituições de pesquisa, ensino e extensão localizadas nas principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva a interação das instituições e a otimização de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais. Foi criado por dez instituições: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, Instituto Agronômico - IAC, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras - Ufla e Universidade Federal de Viçosa - UFV.

 

Avanços do Consórcio Pesquisa Café - Quando da criação do Consórcio, conforme dados oficiais do Informe Estatístico do Departamento do Café - Dcaf/MAPA, a produção de café era de 18,9 milhões de sacas de 60kg e produtividade de 8,0 sacas/hectare. Em 2014, de acordo com a Conab (maio/2014), com praticamente a mesma área cultivada - 2,3 milhões de hectares - o País deverá produzir 44,566 milhões de sacas, o que representará incremento de aproximadamente 236% no período de 1997 a 2014, com produtividade de 23,1 sacas/ha.

 


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Flávia Bessa (MTb 4469/DF)

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Site: www.embrapa.br/cafe www.consorciopesquisacafe.com.br