E a Embrapa Café foi criada em 1999 para coordenar o Programa Pesquisa Café do Consórcio, que reúne instituições de ensino, pesquisa e extensão rural em prol da cafeicultura
2015 foi um ano de celebração de dois grandes eventos para a pesquisa cafeeira: em março, os 18 anos do Consórcio Pesquisa Café e, em agosto, os 16 anos da Embrapa Café. Esses dois marcos – a constituição do Consórcio Pesquisa Café e a criação da Embrapa Café – contribuíram para o protagonismo da cafeicultura brasileira interna e externamente.
Objetivamente, pode-se dizer que a produção de café no Brasil, nos últimos anos, tem sido responsável por cerca de um terço do mercado mundial, ou seja, de cada três xícaras de café consumidas no mundo, uma é brasileira, o que faz do País o maior produtor mundial. Além disso, é também o maior exportador e segundo consumidor, prestes a conquistar, nos próximos anos, a liderança mundial no quesito consumo, superando os EUA. A bebida é a segunda mais consumida no País, perdendo apenas para a água.
Esse protagonismo é resultado da união de esforços de cerca de cem instituições de pesquisa, ensino e extensão rural integrantes e parceiras do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, com atuação nas principais regiões produtoras de café no País e, principalmente, de cafeicultores que adotaram as tecnologias desenvolvidas e do trabalho da extensão rural. Desde sua criação, há 18 anos, o Consórcio tem mudado positivamente o cenário da cafeicultura nacional, em sintonia com o setor produtivo, agroindustrial e exportador. A criação da Embrapa Café, em 1999, para coordenar o Programa Pesquisa Café completou o rol das instituições envolvidas na transformação recente da cafeicultura brasileira.
No Brasil, de acordo com o Informe Estatístico do Café, da Secretaria de Política Agrícola - SPA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa, a partir de 1997, com a criação do Consórcio Pesquisa Café, a evolução da cafeicultura se deu de forma bastante expressiva. A área de cultivo nesse ano era de 2,4 milhões de hectares, a produção de 18,9 milhões de sacas de 60kg e a produtividade de 8,0 sacas/hectare, com o consumo per capita de 4,3kg de café. Passados 18 anos, de acordo com o Levantamento de Safra da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab (setembro/2015), houve redução da área de cultivo para 1,9 milhões de hectares e, em 2015, o País produziu 42,148 milhões de sacas beneficiadas de 60kg, com produtividade média nacional de 21,84 sacas por hectare. E o consumo per capita, nesse mesmo período, também de acordo com o Informe Estatístico, aumentou para 6,12 kg.
Se compararmos a participação do Brasil de 1997 com a de 2014, segundo os dados da Organização Internacional do Café – OIC, em 1997, a produção foi de 99,7 milhões de sacas de 60 kg e o Brasil participou com 19% desse mercado. E, em 2014, como a produção mundial evoluiu para 141,7 milhões de sacas e, a brasileira, para 45,3 milhões de sacas, nossa participação subiu para 32% do mercado mundial nesse ano, com redução de aproximadamente 20% da área de cultivo.
Contribuíram para essa evolução cerca de mil projetos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do Consórcio Pesquisa Café que geraram tecnologias, conhecimentos básicos, produtos e processos que beneficiaram direta e indiretamente o agronegócio ‘Cafés do Brasil'.
Para o gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo, a evolução da cafeicultura brasileira demonstra que as ações de pesquisa, inovação e transferência de tecnologias contribuíram de fato para a modernização da nossa cafeicultura. "O segredo desses resultados está na parceria e no atendimento às necessidades tecnológicas do setor produtivo e dos demais elos do agronegócio café. Os projetos de pesquisa do Consórcio são elaborados com base em prospecções de demandas dos diversos segmentos da cadeia do agronegócio café com a participação das instituições consorciadas e parceiras".
Bartholo explica que todas as pesquisas, direta e indiretamente, consideram, em seu desenvolvimento, aspectos essenciais, como produtividade, qualidade e competitividade do produto, sustentabilidade ambiental e social, baixo custo, transferência e adoção de tecnologias, conjunto de fatores que realça a ação do Consórcio e mantém o Brasil como País de referência na produção e exportação de café. Além disso, o gerente geral destaca que a evolução da cafeicultura brasileira também deve ser atribuída aos mais de 300 mil produtores de café do Brasil e demais entidades ligadas ao setor, que têm adotado as tecnologias geradas e sinalizado a necessidade de novas pesquisas para atender os diferentes mercados.
Para saber mais sobre o trabalho de pesquisa do Consórcio Pesquisa Café ao longo desse período, confira entrevista do gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo. Ele é engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade Federal de Lavras (1972) com mestrado em Fitotecnia com concentração em Melhoramento Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa (1978) e doutorado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela Universidade Federal de Lavras (2000). É ainda pesquisador da cultura do café, com estudos concentrados na área de melhoramento genético do cafeeiro/fitotecnia.
Embrapa Café – Em que contexto e como surgiu o Consórcio Pesquisa Café e a Embrapa Café?
Gabriel Bartholo – Em 1997, as instituições ligadas à pesquisa cafeeira foram signatárias do Termo de Constituição do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café. O Consórcio Pesquisa Café foi criado com a finalidade de unificar a pesquisa cafeeira, que, de certa forma, era realizada por diversas instituições de modo isolado. O objetivo foi estabelecer os princípios e procedimentos para desenvolver pesquisa de forma integrada e participativa, visando estabelecer canais formalizados e eficazes de intercâmbio científico e tecnológico entre as instituições e congregar todos os recursos disponíveis em busca de melhores e mais benefícios para o setor cafeeiro. A Embrapa Café foi criada em 1999 para coordenar o Consórcio, com o objetivo de apoiar atividades desenvolvidas pelas organizações integrantes do Consórcio.
Embrapa Café – Como funciona e o que representa o Consórcio Pesquisa Café hoje, quantas são as instituições consorciadas, que outras instituições estão envolvidas e com qual objetivo?
Gabriel Bartholo – O Consórcio Pesquisa Café consiste no arranjo composto por instituições de ensino, pesquisa e extensão para desenvolver a pesquisa cafeeira no Brasil. Atualmente o Consórcio Pesquisa Café conta com noventa e duas instituições, sendo que as instituições fundadoras foram: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, Instituto Agronômico - IAC, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - Pesagro-RIO, Universidade Federal de Lavras - Ufla e Universidade Federal de Viçosa - UFV. Nesse contexto, foi estabelecido um modelo de governança que tem por objetivo otimizar os recursos humanos, físicos, financeiros e materiais para elaboração de projetos inovadores com caráter multiinstitucional e disciplinar. Esse arranjo estimula o compartilhamento de conhecimento e tem permitido a integração de pesquisadores das instituições consorciadas, para geração de tecnologias em sintonia com os desafios do agronegócio café brasileiro. A governança do Consórcio segue as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Diretor do Consórcio, composto pelos dirigentes das dez entidades fundadoras e é presidido pela Embrapa.
Embrapa Café – Quais são as fontes principais de financiamento das pesquisas do Consórcio? Os recursos têm sido suficientes para o desempenho das atividades?
Gabriel Bartholo – No caso da Embrapa Café, que exerce a coordenação do Consórcio, o aporte financeiro principal para o custeio das pesquisas do Consórcio provém do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Mapa. Contudo, o Consórcio não tem tido aporte suficiente para contratar todos os projetos aprovados nos últimos anos. Em relação à instituições consorciadas, outras fontes são captadas pelas Fundações de Amparo a Pesquisa dos estados, como FAPEMIG, FAPESP, FAPES e os órgãos de fomento federais FINEP, CNPq e INCT/Café, por meio de projetos. Contudo, os recursos atualmente captados têm sido escassos, comprometendo parte das atividades programadas. É difícil prever quando os recursos para a pesquisa retornarão à normalidade à semelhança dos dez primeiros anos do Consórcio.
Embrapa Café - Como são definidos os focos prioritários para a contratação dos projetos a serem executados no âmbito do Consórcio Pesquisa Café?
Gabriel Bartholo – Como exemplo recente de estratégia para contratação de projetos, cabe mencionar oWorkshop Fortalecendo a Rede com Novos Projetos do Consórcio Pesquisa Café realizado na sede do Instituto Agronômico - IAC, em dezembro de 2012, que teve por objetivo identificar e priorizar, de forma participativa, demandas do agronegócio café, por meio de prospecção científico-tecnológica, o qual contou com a participação de representantes dos principais segmentos da cadeia produtiva do café no Brasil. Foram elencadas as prioridades para o momento atual da cafeicultura nacional e organizadas numa plataforma tecnológica de ações estratégicas para a formulação e contratação de 92 projetos que redundaram em 496 planos de ação. Nesses 18 anos de existência do Consórcio, foram desenvolvidos cerca de mil projetos que permitiram a geração de conhecimentos básicos, produtos e processos já disponibilizados aos cafeicultores pelo sistema de extensão rural.
Embrapa Café – Atualmente quais os focos temáticos das pesquisas do Consórcio Pesquisa Café que foram definidos nesse workshop realizado no IAC?
Gabriel Bartholo – Para permitir o avanço do conhecimento científico e transferência de tecnologia novos focos de atuação foram definidos no whorkshop com temas prioritários, visando ao aumento de produção e produtividade, competitividade e sustentabilidade. São eles: sustentabilidade da cafeicultura de montanha; mão de obra escassa e de alto custo; estresses bióticos e abióticos; qualidade e marketing para rentabilidade; e deficiência dos processos de transferência de tecnologia.
Embrapa Café - Que desafios e tendências orientam os programas e os projetos de pesquisa do Consórcio Pesquisa Café e como está sendo feito o trabalho de articulação pela Embrapa Café nesse contexto?
Gabriel Bartholo – Os desafios e as tendências da cafeicultura, como dito anteriormente, são definidos com representantes de todos os segmentos da cafeicultura e, também, em eventos técnico-científicos (simpósios de pesquisas, congressos, reuniões técnicas, palestras etc.). Os objetivos desses eventos são a prospecção de demandas e análises de tendências do setor, para o desenvolvimento de novos projetos de pesquisa e também o aprimoramento da gestão da atividade cafeeira. A articulação realizada pela Embrapa Café para a superação dos desafios consiste na promoção dos eventos citados anteriormente e na transferência das tecnologias geradas. Nesse sentido, várias unidades de validação de tecnologia foram instaladas no Sul de Minas, região montanhosa, utilizando resultados das pesquisas geradas pelo Consórcio.
Embrapa Café – Poderia citar algumas das principais tecnologias, produtos e serviços desenvolvidos pelo Consórcio Pesquisa Café e seus principais benefícios.
Gabriel Bartholo – Várias tecnologias foram geradas. Entre outras, podemos citar as relacionadas às áreas de melhoramento do cafeeiro e biotecnologia para a obtenção de cultivares adaptadas às diferentes condições ambientais do País, técnicas de plantio, condução da lavoura, nutrição mineral do cafeeiro, manejo de pragas e doenças, irrigação, adubação orgânica, manejo de plantas invasoras, colheita, pós-colheita, manejo sustentável, todas desenvolvidas tendo em vista a sustentabilidade social, econômica e ambiental da produção cafeeira. Mesmo com essas e muitas outras tecnologias disponíveis, a importância do agronegócio café para o Brasil implica ação permanente de pesquisa, desenvolvimento e inovação científica e tecnológica. O trabalho do Consórcio Pesquisa Café mostra ser imprescindível a manutenção da pesquisa cafeeira e a integração de diversos atores na busca constante do melhoramento da qualidade, da sustentabilidade e competitividade do café brasileiro no mercado nacional e internacional.
Embrapa Café - Como a comunidade científica e setor produtivo têm avaliado o trabalho do Consórcio Pesquisa Café? Quais têm sido as principais dificuldades encontradas e também os acertos mais reconhecidos?
Gabriel Bartholo – O Consórcio Pesquisa Café, ao longo de sua existência, busca proporcionar os meios pela pesquisa e transferência de tecnologia para o desenvolvimento do setor cafeeiro do País; e o seu trabalho é reconhecido por todos os segmentos da cafeicultura como o principal fator sob os aspectos ambiental, social e econômico. É conhecido internacionalmente como um modelo singular de pesquisa com um só produto, com a capacidade de aglutinar instituições e recursos humanos. No tocante a dificuldades, a principal é com relação à captação de recursos para custear os projetos de pesquisa que têm longa maturação. Os acertos são refletidos no aumento da produtividade com foco na qualidade.
Embrapa Café – Recentemente, o Consórcio Pesquisa Café criou o Observatório do Café. Quais os objetivos dessa iniciativa e o que se espera de retorno?
Gabriel Bartholo – O Observatório do Café, desenvolvido pela Embrapa Café em parceria com instituições consorciadas no contexto do Agropensa da Embrapa, tem o objetivo de coletar, analisar e disseminar de forma sistemática, dados estatísticos, informações sobre tendências de produção e consumo, oportunidades e ameaças dos mercados e possíveis trajetórias do processo de inovação, além de resultados de pesquisas realizadas pelo Consórcio Pesquisa Café e suas implicações para a competitividade do agronegócio cafeeiro. No Observatório do Café, podem ser acessados relatórios de análises e de tendências nacionais e internacionais do café, informes estatísticos e levantamentos de safras e de estoques privados no Brasil, tendências de consumo interno, além de circulares e comunicados técnicos, entre outros. O que se espera do Observatório do Café é que seja ferramenta estratégica para os agentes do agronegócio café obterem informações atualizadas sobre os avanços e tendências do setor e também que subsidie a tomada de decisão pelos agentes da cadeia produtiva do café. Além disso, gostaria de aproveitar a oportunidade para convidar a todos a acessar o portal do Consórcio Pesquisa Café e, em especial, o Observatório do Café.
Para saber mais sobre o Consórcio Pesquisa Café e a Embrapa Café, acesse:
http://www.consorciopesquisacafe.com.br/
Gerência de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café
Texto: Flávia Bessa – MTb 4469/DF
Contatos: Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. e 61 3448-4010